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Como contribuir com outros professores em projetos integrados?

Pensar e desenvolver planos de aulas e atividades com integração de conteúdos traz um olhar mais próximo de situações do cotidiano. Despertar a curiosidade e o fomentar um planejamento bem estruturado desenvolvem em nossos alunos competências que vão muito além de meras ferramentas para a vida estudantil, se estendem para a vida adulta.

Nenhum problema real vem separado por temas, cabe a você, professor ou professora, instigar seus alunos a pensar de forma mais ativa para e considerar respostas que podem nunca terem sido pensadas, afinal, a criatividade é uma capacidade única presente nos seres humanos desde os primórdios da humanidade. Abrir espaços, em um ambiente escolar para que nossos alunos tenham suporte para propor inovações traz benefícios que os acompanharão por toda a vida e irão influenciar muitos à sua volta.

Outro ponto positivo à favor da integração de conteúdo é que se torna possível a participação de outros profissionais de áreas diferentes. Esse olhar interdisciplinar auxilia no desenvolvimento da aprendizagem significativa, provendo aos alunos diferentes considerações ou pontos de vista acerca de um único assunto.

Apenas para ilustrar a ideia, você, como professor ou professora de Ciências pode propor que seus alunos construam uma aquecedor solar, com o intuito de trabalhar fontes de energia alternativas. É possível convidar diversos outros profissionais, como por exemplo:

  • Geografia, para trabalhar a localização da cidade e a incidência solar desta região, bem como as vantagens ambientais do uso da energia solar,
  • Matemática, para auxiliar com os cálculo da angulação e o correto posicionamento dos painéis solares e o trabalho em conjunto com outros cálculos de Ciências,
  • Português, para que sejam desenvolvidos textos explicativos sobre o projeto e até serem colocados em uma plataforma digital de divulgação,
  • Inglês, com as traduções dos textos desenvolvidos em Português,
  • História, para que sejam trabalhadas questões que envolvam o desenvolvimento econômico do país e o aumento do consumo energético, e também resgatar o extrativismo predatório que aconteceu ao longo da nossa história,
  • Biologia, para que sejam abordados tópicos relativo aos impactos ambientais, da flora e da fauna, causados pela construção de fontes de energia.
  • Você, em Ciências, poderá trabalhar junto à Matemática com o cálculo da potência média do painel, logo, com o cálculo de economia e também no desenvolvimento do painel junto aos alunos.

 

É sempre importante reforçar a ideia de que não existe uma receita pronta para a integração de conteúdos, da mesma maneira que não existe uma única solução para a metodologia a ser escolhida para suas aulas, da mesma maneira que também não existe um curso único e fechado que pode lhe auxiliar a desenvolver novas propostas. Tudo isso depende de muitas leituras, muitas conversas, mas principalmente de muita boa vontade. Se você chegou até aqui, acredito que a boa vontade nunca será um problema!

 

Antes de pensar em integrar é importante compartilhar

Já ouviu falar de sobre networking?

O networking tem como princípio a manutenção ou a expansão da sua rede de contatos. De que tipo? Qualquer tipo. Inicialmente era utilizado para o mundo dos negócios, ou seja, era sempre bom manter um contato e outro com seus clientes e/ou fornecedores para possíveis negócios futuros, porém a ideia é que você utilize este conceito, mas para manter ou expandir suas conexões dentro do universo educacional. Não estou falando apenas em para negócios, mas em um nível mais simples e eficiente de contato. Com os próprios profissionais que trabalhem junto a você.

Diariamente você deve ter contato com pelo menos uns 10 profissionais da educação, sendo de diversas áreas de atuação, por exemplo, da coordenação, do recursos humanos, da manutenção, da limpeza, mas principalmente do pedagógico. Todos esses profissionais têm tarefas e planejamentos para serem cumpridos, bem como, pensam diariamente em como otimizar seus trabalhos. São dessas boas ideias que surgem integrações interessantes.

Uma vez pude presenciar um projeto proposto por uma colega psicóloga com o objetivo de que os alunos reduzissem o descarte de lixo pelo chão da escola, melhorassem o uso das lixeiras para a coleta seletiva – uma vez que não jogavam o lixo em seus devidos locais, bem como reduzissem o desperdício de papel higiênico nos banheiros. Esta colega conversou com a coordenação, com o pessoal da manutenção, da limpeza e com alguns professores, para que os alunos passassem 15 minutos acompanhando o trabalho destes profissionais. O pessoal da manutenção e a limpeza se organizaram para receberem os alunos e mostrar como era a dinâmica do dia a dia, mesmo que por pouco tempo. O pessoal da manutenção tinha como objetivo mostrar quanto tempo da semana é utilizado para reparar danos causados pelo uso dos espaços escolares. O pessoal da limpeza tinha como objetivo mostrar aos alunos Os alunos se organizaram para montar grupos pequenos para acompanhar sem atrapalhar o trabalho do pessoal da manutenção e da limpeza. Enquanto isso, professores de Ciência e Geografia abordaram em suas aulas as questões atreladas à reciclagem e da redução de recursos energéticos ao se adotar posturas mais sustentáveis.

Em duas semanas, cada grupo pode passar duas vezes pela manutenção e duas vezes pela limpeza, ou seja, foram necessários somente 60 minutos para que os alunos desenvolvessem uma postura completamente diferente da que tinham antes, em outras palavras, os resultados foram extremamente efetivos.

A escola conseguiu reduzir o consumo excessivo do papel higiênico em cerca de 20%, o ato de descartar o lixo fora das lixeiras praticamente não acontece mais e cerca de 90% de todo o lixo produzido na escola é depositado em locais corretos para reciclagem.

Este é um exemplo muito bom para ilustrar a ideia de integração de conteúdo e ainda partir de um problema real pensado para virar um plano de aulas, contando com a participação de profissionais de diversas áreas, apoio da coordenação, mas principalmente, interesse da parte dos alunos.

Stano (2015) , já nas considerações finais, conclui que:

 

O ensino tem suas próprias regras, condições e princípios. Os professores têm ideia sobre um bom ensino, porém de forma superficial e assistemática. Faltam-lhes conhecimentos específicos e sistemáticos sobre o ensino para a melhoria da atuação docente. Para tal, existe a necessidade de articular prática-teoria-prática. O ensino transcende a aula, indo desde a preparação até ações posteriores, incluindo aí seus aspectos invisíveis e subjetivos.” [1]

 

Desenvolvemos um saber-fazer que em algumas situações chega ao ponto de se tornar automático, não nos fazendo mais pensar em nossos ideais educacionais. Por isso, no capítulo 01, foi apresentado e discutido a importância de se planejar para praticar a Educação Continuada e no capítulo 02, foram apresentados pensadores, metodologias e projetos como exemplo destas práticas. Todas as nossas ações, tanto dentro, quanto fora da aula influenciam diretamente na qualidade do nosso trabalho.

Se você estiver pensando, neste momento: Meu horário é muito apertado, ou eu não tenho condições para me deslocar até o local onde as trocas acontecem. Não se preocupe, existem alternativas interessantes já comentadas aqui, como o uso de grupos específicos para esta finalidade em redes sociais.

Sobre compartilhamentos de práticas pedagógicas que ocorrem pelo meio virtual, Stano (2015) aponta que:

 

O uso de tecnologias digitais possibilita a ampliação da participação de docentes neste tipo de formação continuada, via grupo de compartilhamento de práticas docentes. Pode-se inferir que a fan page do GTPA – Grupo de Trabalho sobre a Pedagogia para a Autonomia – tem servido menos de espaço para a reflexão sobre a prática docente e mais como um substrato de ferramentas, dicas e leituras sobre processos de ensino-aprendizagem ao professores.” [1]

 

Mesmo que o foco de alguns grupos não seja a reflexão sobre a prática docente, ainda sim é possível encontrar tópicos que tangem esta reflexão e também espaços que disponibilizam ferramentais e práticas pedagógicas.

Independentemente se o modo de compartilhamento for presencial ou virtual, o networking é sempre bem-vindo, tanto para auxiliar e motivar, quanto para que mais professores possam saber e até mesmo contribuir com seus projetos. Costumo dizer aos meus amigos pessoais e de profissão que a maioria das minhas práticas e exemplos utilizados em aula foram desenvolvidos em conversas com estas mesmas pessoas durante um almoço ou um café. A menor parte dessas práticas e exemplos, e é a menor parte mesmo, foi desenvolvida individualmente.

Lembre-se: Não existe uma resposta pronta para os problemas que enfrentamos, porém tenho certeza que o ato de compartilhar práticas pedagógicas é essencial no desenvolvimento de uma solução.

 

Estímulo à análise

Com base no assunto abordado, responda:

  1. Faça um levantamento de três temas que possam ser integrados, pelo menos, a outras duas grandes áreas do conhecimento.
  2. Como você poderia trabalhar esses temas, dentro do seu planejamento, para que pudessem ser integrados?

 

E ai, o que pensou? Como respondeu estas questões? Deixe aqui nos comentários.

 

Referência bibliográfica

[1] Stano, R. C. M. T. O caminho de um grupo de formação continuada docente: do compartilhamento de práticas docentes para uma pedagogia da e para a autonomia. Educar em Revista, Curitiba, Brasil, n. 57, p. 275-290, jul./set. 2015. Link do artigo: https://core.ac.uk/download/pdf/193154527.pdf

Este artigo aprofunda as questões relativas ao compartilhamento de práticas pedagógicas, a reflexão das práticas docentes e ilustra exemplos de melhoria na qualidade destas práticas quando professores encontram suporte de grupos com o objetivo de fomentar tais práticas.

 

Crédito pela imagem: Freepik


Como referenciar este post: Como contribuir com outros professores em projetos integrados?. Rodrigo R. Terra. Publicado em: 30/11/2020. Link da postagem: (http://www.makerzine.com.br/educacao/como-contribuir-com-outros-professores-em-projetos-integrados/).


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