O que você vai ver neste post:
- Relembrando…
- Estrutura da Base Nacional Comum Curricular – Educação Infantil
- Eixos estruturantes e Direitos de aprendizagem
- Mas, e os campos de experiência?
- Referências
Relembrando…
Como já aprendemos no artigo do Prô Terra, aqui no MakerZine, a BNCC é um documento normativo e orientador para a construção e efetivação dos currículos. Esse documento não foi criado sem considerar a legislação vigente e outros documentos já construídos anteriormente sobre a temática. No caso da Educação Infantil, que é o nosso foco aqui neste artigo, foi considerada em sua construção as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação e os Planos Municipais de Educação, além dos inúmeros artigos e pesquisas relacionados à área. Nesse sentido, é importante destacar que não é um simples documento para padronizar e, sim, procura orientar/nortear as práticas pedagógicas a serem desenvolvidas.
Estrutura da BNCC – Educação Infantil
Mas, então quer dizer que a BNCC só modificou as nomenclaturas descritas em outro documento e as colocou em um novo formato, certo?
Não! É aqui que não podemos nos enganar!
A BNCC da Educação Infantil nos proporciona mais do que uma mudança de nomenclatura, ela nos provoca a pensar em uma mudança conceitual, propondo nesse direcionamento, NOVAS PERSPECTIVAS! E quais seriam essas perspectivas?
A criança, mais do que nunca, passa a ser o FOCO durante o processo de ensino-aprendizagem, os saberes não são mais fragmentados em caixinhas, estanques, e, sim, baseia-se na maneira com que a criança se relaciona com a cultura, agindo, criando, produzindo culturas… A criança passa a ser, nesse sentido, a PROTAGONISTA e, isso só é possível de acontecer se nos basearmos em suas EXPERIÊNCIAS…
A mudança conceitual mais importante está centrada no fato de que antes o direcionamento dos documentos eram baseados em que “o que o professor deveria ensinar” e, agora, estão voltados para “o que a criança pode aprender?”, “como ela pode aprender?”, “como suas experiências podem ser significativas?”.
Eixos estruturantes e Direitos de aprendizagem
A BNCC da Educação Infantil tem dois EIXOS ESTRUTURANTES que vão nortear toda a prática pedagógica, tendo como cerne as INTERAÇÕES e as BRINCADEIRAS. O documento ressalta que:
“A interação durante o brincar caracteriza o cotidiano da infância, trazendo consigo muitas aprendizagens e potenciais para o desenvolvimento integral das crianças. Ao observar as interações e a brincadeira entre as crianças e delas com os adultos, é possível identificar, por exemplo, a expressão dos afetos, a mediação das frustrações, a resolução de conflitos e a regulação das emoções.”. (BNCC,2017, p. 37).
Objetivando, então o desenvolvimento dessas características nas crianças, a BNCC elenca 6 DIREITOS DE APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO para as crianças da Educação Infantil. Mas, o que seriam esses direitos? Eles são:
“…as condições para que as crianças aprendam em situações nas quais possam desempenhar um papel ativo em ambientes que as convidem a vivenciar desafios e a sentirem-se provocadas a resolvê-los, nas quais possam construir significados sobre si, os outros e o mundo social e natural.” (BNCC, 2017, p. 37).
Esses direitos devem estar presentes nas Intencionalidades Educativas dos professores, e em todos os momentos de sua prática pedagógica. No fluxograma abaixo mostramos quais são esses direitos:
O objetivo principal desses direitos está, nesse sentido, relacionado com a constituição do ser, devendo ser estimulados nas crianças em todos os momentos de sua vivência dentro da instituição escolar.
Mas, e os campos de experiência?
Inicialmente, antes de colocarmos a “mão na massa” e falarmos um pouco mais das práticas desenvolvidas com as crianças, acreditamos ser de fundamental importância compreender a dimensão evocada por essa palavra: EXPERIÊNCIA. Sempre que nos deparamos com ela, me vem à mente um instigante artigo escrito por Jorge Larossa Bondía, professor de Filosofia da Educação, em Barcelona. Em seu artigo, intitulado “Notas sobre a Experiência e o Saber da Experiência”, Larossa faz diversas reflexões e definições sobre essa palavra que nos é tão cara. Para o autor:
É com essa conceituação e baseando-se na reflexão proposta pelo autor, que iremos abordar os conceitos relacionados as Campos de Experiências. Nesse sentido, a BNCC explicita que esses são:
“um arranjo curricular que acolhe as situações e as experiências concretas da vida cotidiana das crianças e seus saberes, entrelaçando-os aos conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural.” (BNCC,2017, p. 40).
Ao analisar essa proposição, podemos perceber como a mesma tem uma íntima relação com o que nos acabou de dizer Larossa, não é mesmo? Os Campos de Experiências, nesse sentido, nos provocam a repensar as nossas práticas pedagógicas e a propor para nossos pequenos a oportunização de experiências relacionadas ao que nos propõe Larossa e, também, as relações estabelecidas com a cultura.
Cada campo é dividido em três grupos etários: bebês (0 a 1 ano e 6 meses), crianças bem pequenas (1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses) e crianças pequenas (4 a 5 anos e 11 meses). De acordo com cada grupo etário o documento propõe objetivos de aprendizagem e desenvolvimento, os quais vamos começar a delinear, bem como as especificidades de cada um, ilustrando com práticas pedagógicas significativas que podem ser feitas com crianças dessas idades.
Nesse eixo serão vivenciadas pelas crianças experiências que irão propiciar o estabelecimento de interações consigo, com o outro e com o mundo que a cerca, possibilitando a construção de sua identidade, autocontrole e reciprocidade.
- Bebês
(EI01EO02) Perceber as possibilidades e os limites de seu corpo nas brincadeiras e interações das quais participa.
Atividades em que o bebê possa interagir com objetos e pessoas, percebendo quais as reações acontecem quando realiza alguma ação: rolar objetos (bola, garrafa sensorial, mamadeira, brinquedos); tentar se aproximar de algum adulto ou criança para tocar-lhe, entre outros. No meu Canal no youtube ensinei a fazer uma garrafinha sensorial, que é excelente para trabalhar esse objetivo.
- Garrafinha Sensorial – Canal Lúdico em Ação
- Crianças bem pequenas
(EI01EO02) Demonstrar imagem positiva de si e confiança em sua capacidade para enfrentar dificuldades e desafios.
Experienciar momentos em que a criança possa superar pequenos desafios, que estejam relacionados a momentos de sua rotina, sempre observando o estímulo de ultrapassar algo que seja possível, evitando que a criança fique demasiadamente frustrada. Brincadeiras no parquinho de subir e descer do escorregador sem auxílio de um adulto, pular de um pé só, circuitos de psicomotricidade, se alimentar sem auxílio, entre outros.
- Crianças pequenas
(EI03EO02) Agir de maneira independente, com confiança em suas capacidades, reconhecendo suas conquistas e limitações.
Proporcionar a criança a vivência com jogos cooperativos, em que elas deverão se unir para, juntas, chegarem a resolução do desafio proposto. Um exemplo dessa atividade é o trabalho com a solução de problemas cotidianos. Certa vez desenvolvi com a minha turma uma atividade em que as crianças deveriam pegar um pote com um brinquedo que gostavam muito no alto de um armário da sala. Expliquei para elas que poderiam utilizar qualquer recurso disponível na escola, desde que não se colocassem em risco. Nos primeiros momentos os pequenos começaram a escalar o armário, acreditando que conseguiriam chegar até o objetivo (Foto 1).
Como perceberam que o armário era muito alto, decidiram pegar uma das bolas que haviam disponíveis na sala e arremessar, cada hora um, até que o pote caísse (Foto 2).
Essa estratégia quase deu certo, porém eles descobriram que precisariam de uma criança mais alta e ali na sala não havia essa opção. Reconhecendo suas limitações, perceberam que deveriam mudar sua estratégia e decidiram pegar uma vassoura com o cabo bem comprido e tentar alcançar o pote (Foto 3)!
Perceberam que, se todos pegassem na vassoura ao mesmo tempo, como estavam fazendo, o objetivo não seria alcançado e, chegaram a conclusão que precisavam ganhar um pouco mais de altura para que pudessem derrubar o pote! Pegaram, nesse instante, uma mesa utilizada na sala de aula, escolheram uma criança que pudesse subir segurando a vassoura e.… tcharam!!! Conseguiram! Desafio completado com sucesso! Essa simples atividade é um exemplo de como, com pouquíssimos recursos, mas com muita criatividade podemos estimular nas crianças uma experiência significativa. Ressalto, ainda, que em todos os momentos eu e minha auxiliar, estávamos na sala de aula supervisionando a atividade a fim de que a segurança das crianças fosse garantida!
Nesse campo, o corpo das crianças e sua relação com o mesmo ganham centralidade, proporcionando a descoberta de si, de suas possibilidades físicas e o autocuidado.
- Bebês
(EI01CG02) Experimentar as possibilidades corporais nas brincadeiras e interações em ambientes acolhedores e desafiantes.
Os bebês são pequenos cientistas, que percebem tudo à sua volta com olhar desafiador, de novidade e, são dotados pelo espírito da experimentação. Quase tudo ao nosso redor pode se tornar um ambiente desafiante para a criança, quando utilizado com uma intencionalidade educativa. O Instituto Alana, disponibilizou uma série de vídeos sobre as possibilidades vivenciadas com os bebês, baseando-se no projeto “O Começo da Vida”, que tem um documentário de mesmo nome, o qual indico vocês a assistirem. Para pensarmos sobre esse objetivo de aprendizagem e desenvolvimento o vídeo disponível abaixo nos traz infinitas possibilidades:
- Testando e Aprendendo – O Começo da Vida
https://ocomecodavida.com.br/testando-e-aprendendo/
- Crianças bem pequenas
(EI02CG02) Deslocar seu corpo no espaço, orientando-se por noções como em frente, atrás, no alto, embaixo, dentro, fora etc., ao se envolver em brincadeiras e atividades de diferentes naturezas.
As crianças devem conviver em ambientes que possam estimular o desenvolvimento das noções de orientação de maneira lúdica e concreta, proporcionando as mesmas vivenciar essas noções, para que, dessa forma os conceitos estejam ligados à sua memória corporal. Várias são as maneiras com que podemos estimulá-las: circuitos de psicomotricidade, brincadeiras no parquinho, brincadeiras no espelho e músicas variadas. Abaixo indico três músicas amadas pelos pequenos para trabalhar esses conceitos:
- Palavra Cantada – Brincadeira em cima, embaixo. https://www.youtube.com/watch?v=BYnoiv9RXgU
- Bamboleio – Música do Abraço – https://www.youtube.com/watch?v=OTwv_-f_WO8
- Crianças pequenas
(EI03CG02) Demonstrar controle e adequação do uso de seu corpo em brincadeiras e jogos, escuta e reconto de histórias, atividades artísticas, entre outras possibilidades.
As crianças dessa faixa etária necessitam viver experiências em que possam refletir sobre a adequação e uso de seu corpo ao longo da situação proposta. Além de atividades cotidianas como a rodinha, escuta e contação de histórias e atividades de registro, essa habilidade pode ser desenvolvida de forma lúdica em diversos tipos de brincadeiras como é o caso dos jogos de imitação, em suas mais variadas formas. Um exemplo desse jogo está disponível no vídeo abaixo:
- Brincadeira de Imitar – Canal Caixinha Musical – https://www.youtube.com/watch?v=D7Yaj8cb9rc
Referências
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Educação é a Base. Brasília, MEC/CONSED/UNDIME, 2017. Disponível em: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf>. Acesso em: 05 abr. 2020.
BONDIA, Jorge Larrosa. Notas sobre a experiência e o saber da experiência. Rev. Bras. Educ. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n19/n19a02.pdf>. 2002, n.19, p. 20-28. Acesso em 05 abr. 2020
Crédito pela imagem: Freepik
Como referenciar este post: BNCC na Ed. Infantil: Vamos colocar a mão na massa?. Prô Camila. Publicado em: 21/4/2020. Link da postagem: (http://www.makerzine.com.br/educacao/bncc-na-ed-infantil-vamos-colocar-a-mao-na-massa/).
Parabéns pelo trabalho e por compartilhar informações valiosas.
Muito obrigada Vera!Fico muito feliz em poder contribuir!
Experiências valiosas e práticas construtivas 🥰
Excelentes dicas.